O PRẼMIO NA CASA LOTÉRICA
O PRÊMIO NA CASA LOTÉRICA
Solano Brum
Inicio aqui, uma história verdadeira. Seus personagens entenderam por bem que eu não deveria divulgar seus nomes. Respeitado o tabu, mostrei-lhes os manuscritos com uma pitada de historiador. Também, não me permitiram divulgar a Cidade do interior, tampouco o Estabelecimento Comercial do protagonista. Em conversa com o casal, em sua atual residência – Xerém, Distrito de Duque de Caxias, a história começou a ser contada por ele, ao lado de sua amada.
Estávamos no ano de mil novecentos e cinquenta e oito, novembro por assim dizer, e eu, festejando, minha décima quinta primavera, justamente no último dia daquele mês. Foi uma comemoração rápida, com poucos amigos, pois, havia a ameaça de mudarmos para... Não fiquei sabendo, na época! Somente depois, quando tudo já estava arrumado é que nos mudamos para uma Cidadezinha, obedecendo a uma transferência Bancária em que meu Pai trabalhava. Estávamos nos mudando da Cidade de Vitória, - Espírito Santo -, para este Município. Então, passamos o Natal sem nenhum parente por perto. Lembro-me que o meu presente fora uma bicicleta de marca muito conhecida na época. Fiquei feliz, pois, podia sair a pedalar pela pacata cidade sem muito me preocupar com seus desvios e minha mãe, certa de que ficaríamos morando naquela Cidade hospitaleira por muitos anos, fez-me confidências sobre sua felicidade. Ledo engano que floriu em sua pobre cabecinha.
Preocupada em transferir minha Matrícula Escolar, a fez de imediato. De resto, era andar de bicicleta, apreciar a praça e aos domingos, irmos à missa na Catedral, cujo Santo Padroeiro era e continua sendo Santo Antônio. A festa em sua homenagem parava a Cidade por três dias seguidos. Mamãe era muito católica, o que não se podia dizer de meu pai. Mas, nunca embargava as visitas à nossa casa, das Beatas da Igreja que foi seu primeiro contato com as mulheres da localidade.
“- Uma decente Senhora, - comentava ele, olhando-a nos olhos - “ao entrar na Igreja, cobre sua cabeça com véu e sua saia tem que ter anágua!”
Sinceramente, eu nunca consegui, ao longo dos tempos em que vivi, inclusive depois de sua passagem, coadunar: “cobrir a cabeça com véu e usar anágua sob o vestido.” Usar o véu ao entrar na Igreja era costume, mas usar a anágua, não entendia. Tentando decifrar o enigma – na minha pouca experiência de vida – achava que Papai havia englobado a frase. Este fato, eu jamais indagara à minha mãe. Talvez tenha ouvido esse comentário na sua juventude... Ou, sei lá; o certo é que, ao falar, seu bigode parecia flutuar sobre o lábio superior.
E as Martinez? Ah, como era bom sair pela manhã, aos domingos e entrar num Cinema! Haviam três. Dois eram de luxo e um outro, um tanto afastado. Eu nunca havia pisado dentro dele, pois, além de ser longe, tinha fama de ser “Pulguento”. O mais frequentado por mim, era o do Centro - quando o filme não era impróprio, é claro e, de resto, passar pela ponte ao caminhar para a Escola e ao voltar. Com a continuidade dos meses, descobri serem duas. Eu ficava olhando as águas escorrerem entre as pedras, seus murmúrios e aquilo tudo me fascinava e muito.
Pouco tempo tinha para conversar com meu Pai. Por um lado, seu trabalho e por outro, a conversa sempre girava sobre meu futuro e esse futuro, já no presente, exigia e muito em estudar com afinco. Somente minha Mãe conseguia conversar amistosamente comigo. Eu sentia falta de sua aproximação; mas, nunca o condenei, pois, ele tinha seus afazeres. Era o homem das responsabilidades da casa e sobressaia, sobremaneira, por sua habilidade em conduzir a família. A ocupação lhe tirava o tempo para conosco e englobava com isso, sua honestidade no Banco. Poucos donaires, bem como, pouco falante, porém, muito observador, com grandes conhecimentos sobre transações bancárias. Meu pai era Contador de um Banco novo, criado em mil novecentos e cinquenta e cinco, em São Paulo e já com grande ramificação. Pelo tempo em que me foi dado o privilégio de viver com ele, nunca o havia visto sorrir, por exemplo, de uma piada ou um gesto carinhoso, vindo de minha mãe. A barba era bem feita, por isso mesmo, o bigode sombreava-lhe a boca e lhe sobressaia no rosto. Mamãe dizia sempre: O bigode de seu Pai, impõe respeito!” Nem tremia ao dizer isso. Talvez quisesse, nas entrelinhas, que eu deixasse crescer o bigode, assim que ele engrossasse. Eu ria mas não achava interessante aquele monte de cabelo sobre a boca. Ela, por sua vez, usava os cabelos compridos e às vezes, os trazia preso à nuca em forma de coque. Senhora de corpo esguio, modesta e bela.
E ali estávamos nós, hospedes, já há três meses, naquela Cidade, minuscula por assim dizer, pois, havíamos saído de São Paulo, Capital movimentadíssima, para outra Cidade menos movimentada, de nome Vitória... e como a uma cascata que vai se emudecendo, esta, ainda menor e silenciosa. A casa era antiga. Com grandes portas; corredores frios; e, uma cozinha a qual ostentava uma geladeira de marca nova. A mobília chegou dois dias antes de nós, e, quando chegamos, tudo já estava muito bem arrumado. Não me lembro quem havia montado os moveis, mas, o certo é que estávamos ali, e ele, assumiria o cargo no Banco, como Gerente, no outro dia, na segunda feira, portanto. Dias depois, a uma conversa com minha mãe, ouvi, às escondidas, comentários sobre o trabalho. Foi a única vez ou se me lembro bem, a última, pois, nunca mais ouvi entre os dois uma conversa tão formal. Comentava ele sobre sua presença no Banco. O antigo Gerente lhe cedera a Cadeira de Diretor, porém, não lhe dirigia nenhuma palavra e proibira a secretária em lhe passar diretrizes o que de pronto não foi obedecido.
Foi somente uma conversa. Um desabafo posto que, não havia naquela Cidade, amigo ou – de imediato – um funcionário que se pudesse manter um diálogo mais confidente. Mas isso foi se clareando, pois, sua Secretária...
O mesmo remanejamento acontecera ao antigo Gerente, dois meses depois. Daí, ele começou a reinar – como Diretor – com mais calma e segurança, enquanto os demais funcionários, eram pessoas do mesmo lugar. Compreendi depois, que, o remanejamento de funcionários fora feito de modo errado. Rei morto, rei posto, só que o antigo ficara oferecendo desacordos com o novo diretor. Mas, três meses depois, deu-se o fato. Comecei a estudar e meu Pai a trabalhar, e, nós, - eu e minha mãe -, a nos integrar como novos moradores daquela cidade acolhedora. Mamãe era apenas um enfeite dentro da casa; mas, podia sair comigo, conhecer as poucas lojas, Cinemas e logradouros. Em casa, não lavava uma vasilha sequer; apenas dava algumas ordens a uma Senhora que permanecia na cozinha o tempo todo e que somente aparecia na copa para dispor sobre a mesa os pratos e os alimentos da preferência de meu Pai, os quais chegavam quentinhos. Ressalto sobre essa senhora e sua presença em minha vida, como sendo fundamental. Até bem pouco tempo, esteve conosco, vindo a falecer, internada e assistida por uma equipe de bons médicos numa renomada Clínica do Rio.
Nessa pacata cidade, tudo era muito pequeno... Havia uma Fábrica de Cimento e o comercio era escasso. Entre as idas e vindas do Colégio, conheci uma garota que mais parecia haver saído de um conto de fadas. Era ruiva e tinha os olhos grandes. Quando a olhava de frente, durante o dia, eram verdes, porém, à tardinha, assemelham-se a uma turmalina azul. Era impressionante. As pernas eram grossas, mas, o que muito me impressionava era o nariz, que, (e foi o que mais apreciei nela) chamava muito a atenção pela delicadeza com que a natureza o havia desenhado. Os meninos que completavam a maior idade tinham permissões (privilegio – na época - só para eles) para saírem da Cidade e buscar empregos ou oportunidades em concursos nas Capitais. Para isso, estudavam com afinco. Já rapazinho, compreendia tudo e aquilo me motivava a progredir nos estudos, pois, os comentários me aspiravam ainda mais.
Com a arribação dos meninos, sobravam as meninas. Aos bandos, por assim dizer! Apareciam na praça, das seis horas às oito, e sumiam, de repente, ficando apenas as mais adultas e acompanhadas. Isso acontecia aos sábados e domingos e nos raros feriados. Não havia nada para se ver além disso; Apenas o caminhar de uma ponta à outra, num vai e vem constante. Elas, todas de braços dados, acorrentadas uma à outra, em total de três, quatro ou mais, passavam por nós, os meninos, e jogavam seus charmes, mas, chegar, desprender, pelo menos uma delas, daquela corrente para conversar, era impossível. Não era permitido namorar, pois, quem namorava uma menina e a deixava, por alguma falta de constância – é claro - pronto... Ela ficava marcada e não arrumava mais namorado algum pir longos tempo. Um grande problema para elas, na época. Nenhuma menina poderia começar a namorar, sem ter a certeza de que “ele” seria “seu” - a partir daquele momento - como par constante. Hoje nada disso acontece; sao elas, as primeiras a saíres para outras Cidades e muitas vezes, só voltam para uma rápida visita.
Naquela época, com a idade que eu tinha - como os demais meninos - não se encontrava nenhuma delas para... Pelo menos uns beijinhos sem nenhum compromisso... É. - Era um grande suplício!
Mas, essa menina, comprida e de olhos garços, filha de uma amiga de mãezinha a qual conhecera na loja de manicure, já frequentava mossa casa. Foi com muito custo que ela, na companhia da sua, numa tarde de domingo, ficou um tempinho a mais, comigo, após sua saída. Mamãe entendeu, com certas reservas de cuidados e a Mãe dela, entre as reticências do sim e não. Não demorou muito para que mamãe – observada por meu Pai -, se incomodasse com sua presença e com um sorriso discreto, ordenou-me que a levasse para casa. Mas, que fossemos pelas ruas mais diretas e que eu voltasse, logo a seguir, pelo mesmo caminho. Fizemos justamente o que ela havia pedido, para obter, futuramente, mais confiança. Desse dia em diante, começou a antecipar sua chegada a minha casa para estudar comigo e, para esperar por sua Mãe, que passava para buscá-la, após sua saída da loja e aproveitar para um rápido prosear entre as duas, saboreando um gostoso bolo com café. As vezes, passava do horário de sua saída pelo movimento de fregueses e então, mamãe nos acompanhava até a Loja e de lá, eu a levava para casa. Era uma Mãe solteira, criando uma filha apenas com seus esforços e muito reservada, apesar de haver cometido o maior e mais belos dos pecados, porém, mal aceito por suas amigas e parentes. “- Não tem nenhum namorado” – comentários reservados de sua filha aos meus ouvidos “– nem se envolve com outras amigas com o mesmo problema, para não ficar mal falada.” A menina carecia de ensinos à parte, sobre a Matemática, por isso, eu a ensinava e com muito gosto. Com o tempo, por ficarmos sempre juntos, as tardes, longe dos olhos reprovadores de minha mãe, às vezes, até dentro do meu quarto, nasceu entre nos um amor repentino. Quando abrimos os olhos, já estávamos nos beijando e nos abraçando. Mas, só isso que ela permitia. Nossos passeios, era parar na ponte. O rio passava caudaloso e roncava entre as miudas pedras. Eu, quando sozinho, me debruçava no parapeito dessa ponte e ficava imaginando, quando seriam misturadas ao mar? Lembro-me que fomos a Marataízes a pedido de mamãe, que nos vigiava de longe. Que nos banhamos nas ondas perigosas daquele mar; que o vento rasteiro arrastava as areias finas as quais feriam nossos tornozelos. Voltamos antes do anoitecer, no belo carro de meu pai, que a deixou sã e salva à porta de sua casa. Andávamos de bicicletas pelas ruas do centro, aos domingos, mas, nunca distanciávamos além do permitido. Eu acordava satisfeito pelo dia que amanhecia. Só hoje, pressinto o porquê da alegria. Era ela. Chegávamos sedo ao Colégio e ficávamos tagarelando, às vezes com um grupinho, outras, só com ela. Causávamos inveja. Até os enfáticos comentários de suas amigas quanto as demoradas permanências na minha casa não passavam despercebidas. Não dávamos ouvidos aos comentários, mas, o fato existente já incomodava aos demais, não sei se por despeito ou inveja ou porque eu havia me enturmado com uma das mais bonita mocinha da Cidade. Nunca deixamos transparecer nosso acordo. “Nunca de mãos dadas pela rua ou irmos a sós ao cinema, mesmo às matinés.” para não dar o que falar. Mas, estávamos sempre juntos.
Num certo dia, e eu já contava com com dezesseis anos e ela com quatorze completos, quase no termino do ano letivo, minha mãe chamou-me a um canto, sem a sua presença e relatou-me:
- Estamos de partida, meu filho!
Tal revelação pegou-me de surpresa. De partida, mas, para onde? Olhei em seus olhos e eles nadaram em duas poças de lágrimas. Brilhavam e eram tristes. Ela não pretendia sair tão cedo daquela Cidade. Pensara fixar residência ali... Outras plagas, jamais – disse-me ela quando aqui chegamos. E foi surpresa. – Será que vamos ficar assim, passando pouco tempo em uma cidade e pulando para outra? Quando vamos parar, meu filho? Surpreendeu-me ao enfatizar suas lástimas. Mas, o progresso crescia rápido e as finanças exigiam mudanças; principalmente dos melhores funcionários.
Desviei meus olhos dos seus, pois, não conseguia vê-la, assim, chorando, às escondidas. Mas era caso encerrado. Papai havia sido transferido para o Rio de Janeiro, para um cargo ainda mais elevado.
Não era uma solução imediata. Viajou, fez lá suas preliminares num período de dois meses e voltou justamente no mês de dezembro. Fizemos nossa Ceia Natalina juntos; dei presentes à minha amiguinha e mamãe à sua enquanto que Papai, se conteve com boas gravatas e um lindo Blazer comprado em Vitória. Novamente ele voltou ao Rio e ficamos apreensivos. Foi o tempo de pedir a transferência de matrícula para outro Colégio, esperar por ele e arrumar as malas... Bem, a menina comprida por sua idade, doce e airosa já entrava porta adentro sem nenhum constrangimento, com uma trancinha mesclada e uma pequena rosa nos cabelos e um sorriso que desmoronava até o sisudo rosto de meu pai. Eu, de minha parte, me enchia de orgulho por ela ser – às escondidas -, minha namorada. Havia uma tensão no ar. Um rumor sobre sair... Passear... Depois, mudar-se para longe. Então, tive que lhe falar. Ao ouvir, caiu em prantos e saiu porta fora, voltando no outro dia, à tarde. Era um domingo. Meus pais haviam se ausentado para irem ao cinema, na sessão das seis e meia, assistirem ao filme “Juventude Transviada” com o famoso – Já falecido na época - ator “James Dean”. Aliás, foi o derradeiro passeio dos dois.
Ficamos sozinhos. Ela entrou porta adentro, sorridente, mas, calculista. Assustei-me por vê-la ali, dentro de meu quarto, com um sorriso doce e ao mesmo tempo, muito eloquente. Não vi brilho em seus olhos. Não me levantei para abraçá-la. Não entendi por que ela, sem nenhum pudor, naquela instante, despiu-se por inteira e se entregou a mim, sem se importar com o que poderia lhe acontecer. Afinal, eu teria que me mudar e ela, ficaria a minha espera. Lembro-me que seus olhos se abriam e se fechavam, como a serração que vez por outra deixava o sol clarear o outro lado das margens do rio. Tudo rodou em nossas cabeças extasiadas. Ficamos estirados na cama, calados, sem acreditarmos no que havia acontecido. Lembro-me que, depois, ela, encheu-se de vergonha de mim e rápida, enrolou-se no lençol, mas, ao fazê-lo, deixou à mostra, uma mancha que me pareceu ser de sangue. Mas eu a vi. E que depois, nos vestimos e levamos o lençol ao tanque para ser lavado. Porém, por mais que tentássemos, mais se mostrava uma mancha que passou a espalhar-se por inteiro. E onde pendurá-lo? Quando ela saiu, levou consigo nosso lençol, trazendo-o no outro dia, bem limpinho e passado. Assim que ela o forrou na cama, lembramos do acontecido e novamente fizemos amor, agora, sem nenhum constrangimento, às escondidas. Os três dias que antecederam minha partida, fizemos amor, pois, a juventude queimava nossa carne, estonteava nossos sentidos e nos embalava ao sonho, que na época, somente admissível aos adultos. Depois entendi seu ato de amor, justificando a futura perda. Num dos livros sobre autores renomados, aqui na Guanabara, entre tantos, “AUDUOS HUSLEY, já dizia: “A castidade é a mais anormal das perversões sexuais”. Certo ou errado, ela se entregou a mim, como a menina do Soneto de “LEDO IVO”, “SONETO DA GRANDE LUA BRANCA', publicado no Jornal, “Gazeta de Notícias, pela Colunista Maura de Senna Pereira, alguns anos depois, num Domingo, dia 16, 2. feira, em 17 de junho de 1974, e que, a guardei por uns bons tempos.
Saímos pela manhã, e não pude vê-la. Chorei dentro do ônibus, mas, não podia atrever-me a descer ou mesmo gritar para ficar. Como me manteria sozinho naquela Cidade? E depois, tinha que acompanhá-los, mesmo porque, entre minha mãe e meu Pai, já existia uma pequena e discreta divergência de pensamentos. Viajamos e já nesse dia, ela permaneceu em minha poltrona e ele, em uma outra e pouco se falaram. Nunca fiquei sabendo, mas, como nada nesta vida permanece escondido, ouvi uma discussão entre os dois, certa vez, ultrapassando os notórios exemplos sobre comportamentos, discussões e entreveros por parte dos dois. Nunca havia visto ou mesmo ouvido minha mãe gritar com meu Pai. E naquele dia, sua confissão, aos gritos, sobre o que descobrira a respeito da mulher... Ele havia transferido a secretária e a mantinha sob sua embriagada guarda amorosa. Papai contava na época com quarenta e sete primaveras, e minha mãe, excedia à sua, dez por assim dizer. Esse mesma Secretária, após usá-lo como trampolim, o deixara cinco anos depois, levando-o a um ataque fulminante do coração. Por ser um homem muito orgulhoso, assim que soube não resistiu, embora ainda mantivesse com minha mãe, laços de família.
Mas, voltemos à nossa chegada. Entre o explodir dos sons emitidos pelos bondes que nos acordavam muito cedo, o procurar adaptar-me à Cidade grande, conhecer o Bairro das Laranjeiras... Fui deixando os lamentos de lado e firmando-me ao novo que se apresentava a todo instante à minha frente. O itinerário que minha mãe fizera comigo, mostrando-me como chegar, a pé, ao Colégio, e a não permissão sobre andar de bicicletas, deixavam-me aturdido. Fui esquecendo a garota comprida e de olhos verdes e afundei-me nos estudos.
Num crítico momento, um grande tumulto sobre um “Presidente”, o qual demonstrou ser homem de forte personalidade, culminando assim, com o encontro de ideais políticos, na ocasião, malgrado haver conseguido uma das maiores consagrações eleitorais já ocorrida, com mais de seis milhões de votos. Lembro-me bem que ele, ao visitar a Cidade de onde havíamos saído, num discurso, em plena praça, apenas enfatizou:
“- Não lhes prometo nada. Votem em mim e verão o que vou fazer!”
O povo, cansado de falsas promessas e ser conduzido à revelia, ouviu o homem dizer que “não prometia nada, mas que votassem nele” deu-lhe a oportunidade de mudar... Era uma grande professor da língua portuguesa. Dir-se-ia, que respondera a quem lhe havia perguntado sobre o porque renunciara: Palavras dele: “FI-LO PORQUE QUÍLO”. Não sei se o comentário é verídico, mas, pelo que ouvi falar, a frase contundente só poderia ser dele.
Deu-se o fato no ano de mil novecentos e sessenta e um, em vinte e cinco de agosto, precisamente. Apenas sete meses de tentativas de ordens pautadas em desordens e sua fatídica renúncia. Soldados por todos os lados. E no ano de mil novecentos e sessenta e quatro, um outro tumulto. Eu havia sido dispensado do serviço militar, porém, fiquei apreensivo. Era um golpe militar. O Brasil enfrentava sérios problemas, até mesmo meu Pai fora afastado de suas funções, ficando ausente por muito tempo do cargo que ocupava. Ao voltar, teve sua decepção e o ataque fulminante.
Muitos avisos de minha mãe sobre manifestações estudantis, e eu olhava tudo, passava longe, saia de perto e pouco participava. Conclui meus estudos prestei vestibular, fiz a Faculdade, diplomando-me em Contador, depois, o Pós-Graduação foi exigido. Nesse tempo, conheci uma menina que também terminava seus estudos e me casei com ela. Seus pais eram donos de uma empresa na Cidade de Duque de Caxias, - Grande Rio - e passei a residir naquela Cidade.
Era uma família de Portugueses, com dois filhos. Um homem e ela, que se apaixonara por mim. Quando meu Pai faleceu, minha mãe pretendeu morar conosco, mas não se adaptou ao Subúrbio, embora morássemos numa bela casa onde uma vasta mangueira cobria metade do quintal. Os pássaros faziam ninhos e era maravilhoso. Mesmo assim, ela não se acostumou e voltou a morar no Prédio, em Laranjeiras, assistida pela mesma senhora que nos acompanhara, quando de nossa mudança para o Rio.
Mamãe apesar da idade, era forte, mas, a solidão a deixara amuada; portanto, pouco saia a passeios e certo dia, sua acompanhante ao voltar da feira, a encontrou, sentada, vendo televisão, porém, morta. Vendi o Apartamento e trouxe-a para morar comigo e minha esposa. Ficou feliz pois, não tinha ninguém por ela, senão a mim e minha esposa e não queria voltar à pequena e pacata cidade onde nascera.
Tentamos ter um filho. Nada. Passou-se o primeiro ano, o segundo, dez anos e nada. Apesar de ser uma mulher empreendedora, assumindo os negócios do pai, começou a se definhar. Levada ao médico, e lá estavam dois enormes nódulos, um em cada seio. Como se não bastasse, apareceu em seu útero, uma ferida a qual resistia ferozmente as ações químicas. Muito debilitada, não resistiu aos tratamentos. Pronto. Fiquei sozinho, eu e a mesma senhora, que muito atenciosa, cuidava de mim como a um filho e me servia os alimentos como antigamente servia a meu Pai. Os bens foram divididos e fiquei administrando parte dos negócios do Sogro.
O tempo passava rápido não me deixando escolher quem ficaria em seu lugar. E como ninguém apareceu, permaneci só. Curtia e muito o estar só. Mas, as vezes batia uma saudade dela e enumerava nossas batalhas e conquistas. Em mil novecentos e oitenta e sete, eu já passava dos quarenta anos, mas, me envaidecia estar gozando de boa saúde e boa situação financeira, pois, a Cidade de Caxias havia se evoluído e muito após a Fusão dos Estados. Quase não aparecia na Empresa. Passava mais tempo comprando Imóveis e vendendo os já reformados, deixando os assuntos para os donos que eram os filhos do único Irmão de minha falecida esposa. Ainda continuava dando minhas opiniões; porém, pouco aparecia.
Um dia, pela graça de Deus, entrei em uma Casa Lotérica. Um vício adquirido, mesmo sem muito precisar, eu apreciava o jogo do Bicho; fazia apostas e também nas Loterias da C. Econômica, e, entre empurrões e desculpas, cheguei ao guichê. Foi ai que vi dois olhinhos azuis num rosto de beleza rara. O que mais me chamou a atenção foi o nariz da criaturinha. Assim que ela me viu, seu sorriso foi como um relâmpago. Brilhou em sua face, pegando-me de surpresa.
- Veio fazer uma fezinha, tio? - Era um tratamento carinhoso. Havia me acostumado a esses tratamentos familiares. Depois, entregou-me o bilhete da aposta e desejou-me “Boa sorte!”
Sempre sentia alguma coisa estranha em mim, como se fosse a lembrança de algo “ausente”... algo estranho e que muito me incomodava. Era como se estivesse dentro de mim, presente a todo instante. Ou seja, algo que havia saído de dentro de mim, mas que, havia se perdido e crescido fora de mim, mas que não me largava. Algo que classifiquei de “ausente presente.” Chegava sem pedir licenças. Aparecia todo ano, justo no mês de janeiro. Passei a notar esses incômodos no terceiro ano após a morte de minha esposa. Não lhe dava importâncias mas, houve um momento, num ano que não sei dizer qual, eu me senti incomodado. E o incômodo levava-me a uma forte depressão. Eu ficava triste, mal humorado, não conseguia dormir direito... Foi ao médico pensando em se tratar de uma precoce andropausa mas, não era. Mas, ao mesmo tempo que me incomodava, se transformava em alegria naquele dia e por todo o mês. Pegava-me de surpresa. A impressão era de que alguém me procurava; de que alguém me espreitava a cada passo, a cada esquina... O médico nada diagnosticou. Mas, receitou-me um antidistônico, por um mês e que voltasse após. Não voltei porque tudo que sentia era apenas por um mês; consequentemente não tomei o remédio. Meu problema era um passado, uma lembrança do “que” ou quem eu não sabia, mas que não se divorciava de mim. Permanecia apagada como a imagem de uma foto muito antiga e já sem brilho. Um dia, lembrei-me daquela pequena cidade, entre as pedras, cortada por um rio... Com tal pensamento apareceu em minhas lembranças, ela... Balancei a cabeça, querendo expulsar as lembranças. “- Que tolice!” – pensei. Mas, a partir daquele momento, a lembrança daquela Cidade não mais me deixou em paz. Decidi visitá-la. A ideia foi crescendo e amadurecendo. Assim, num belo novembro, aproveitando já o calor que chegava, entrei num ônibus com destino ao passado. Fui lembrando de tudo e dormi. Quando acordei, estava chegando. Era de manhã. Viajei na companhia de uns oito passageiros e, consequentemente no maior conforto. Privilegiado numa só poltrona. A Cidade estava diferente. Até o terminal Rodoviário era estranho. Entrei num táxi que me levou direto a um hotel. Depois de me acomodar, resolvi sair. Mas, para onde? Fui direto a casa onde havíamos morado. Que surpresa. Surpresa e decepção. Ela havia sido demolida e em seu lugar, outra casa, tão nova que parecia haver sido construída naquele instante. Permaneci pouco tempo à sua frente, pois, olhando-a, poderia despertar desconfiança a alguém, admitindo ser outros tempos. Daí, resolvi ir até o Colégio. Outra decepção. Não havia mais colégio e sim, um pequeno Centro de Lojas. Muito bem organizado, mas, nenhum sinal de colégio, tampouco uma foto por lembrança.
“- Meu Deus, como tudo passa rápido e nada fica registrado!” Depois, lembrei-me do sucesso que fazia um cantor nascido naquela Cidade, daí, a expansão Imobiliária.
Perambulei pelas calçadas. Tudo estava diferente. Caras novas, prédios novos... As pessoas pareciam estranhas ou, eu que era um estranho? Não sabia ao certo. Almocei no restaurante do Hotel e permaneci por dois dias a mais naquela Cidade. Não vi a casa da antiga amada... Também, sobre ela, haviam construído outra mais moderna. Nada do que deixara, - apesar de ter na lembrança tudo que havia registrado pelos poucos meses que ali permaneci -, estava no lugar. Permaneci à sua frente, pois, poderia haver alguém, algum parente, a amiga de mamãe... Mas ninguém! Voltei com um grande arrependimento de haver chegado e a nada encontrado. Mas, depois fiquei me perguntando: “- O que realmente haveria de encontrar? E eu, o que eu queria ver?” Por não encontrar uma resposta nas inúmeras perguntas, esqueci.
De volta à Cidade de residência, passei pela casa Lotérica. Continuava um “Bon Vivant.” Os negócios estavam em boas mãos e de minha parte, se eu comprasse uma residência em bom estado, logo a vendia, ou então, restaurava e a punha a venda. Negócio chamava outro negócio e eu não parava, porém, não era um grande compromisso. Podia me ausentar e deixar por conta de um Mestre de Obras e no Escritório, pelo engenheiro.
Andando pela calçada, parei em frente a casa Lotérica. Olhei bem para o seu interior, e lá estava aquela criatura meiga, de olhos profundamente azuis... Ou verdes – Sei lá. Sei que, ao me ver, surpresa por tanto tempo sobre minha ausência, sorriu dizendo como se já nos conhecêssemos há tempos:
“- Ah, você voltou! Veio fazer outra fezinha, tio?”
Sinceramente, aquela criaturinha de rosto diferente de todos os que até então já vi me deixava inquieto. O nariz... Meu Deus! Quem é essa criaturinha? Tudo me deixava pensativo, refletindo sobre coisas que explodiam em minha pobre cabeça. E como nada lhe respondi, ela passou a atender outra pessoa e eu saí. Depois, me veio à sensação de estar sendo observado a cada esquina. Algo irreal que saíra de dentro de mim... Algo que me parecia estar ausente e presente ao mesmo tempo... Meu Deus! Vai voltar tudo de novo? Dei dois passos endereçados à calçada. Quem será esse alguém, jovem e de rosto aparentemente familiar? Enchi os pulmões de ar da rua e os devolvi em seguida, vagarosamente. Depois, tomei coragem e voltei ao interior da Loja. Outra vez aquele rosto de lembranças antigas, veio ao meu encontro; seu sorriso, sua preciosa atenção... Não. É somente uma atenção aos fregueses! Pensei observando-a quanto ao tratamento a outros mais. “- Como vai querido amigo? Fiquei te esperando, faz tempos!” Dizia ela aos fregueses mais conhecidos.
Mas quem será essa menina tão afeiçoada a um homem como eu, já de cabelos grisalhos? Quem, por ventura? E a quem eu a comparava? E ela, sem nenhuma cerimônia, tratava-me carinhosamente como quem já me conhecia há tempos. Nada de suspeito sobre sua cordialidade para comigo; nada que abonasse sua conduta. Ela era uma funcionária da Loja e teria que tratar a todos, com cordialidade. Mas, porque eu atinava estar sendo envolvido pelos visíveis enleios pelo modo com que me tratava? E pelo que me disse, quem lhe dera esperanças e afirmara-lhe sobre minha volta a este estabelecimento? – Pensava em tudo e outras coisas mais num malíssimo de segundos.
Desse modo, o momento me fez alimentar o assunto:
- Esperando por mim? Queira me perdoar, menina... Eu só a vi uma vez!
- E então, agora, é pela segunda! - Sua resposta imediata me fez sorrir e completar:
- Tenho de fazer a aposta!
- Não se preocupe. Eu mesma faço. Nem precisa entrar na fila. – E completou a frase: - O Senhor não é estranho... De onde o conheço?
Falando assim, segurou-me pelo braço, carinhosamente retirando-me da fila. Impulsionado por sua leveza, fiquei constrangido em estar passando à frente de muitas pessoas, porém, a um canto do salão de apostas, exigiu a resposta:
- E então? Encarou-me com os olhos interrogativos:
- Sou Paulista – respondi-lhe de imediato.
- Ah! – Deixou escapar um lamento na exclamação. Depois, retornou insistentemente:
- Então, de onde o conheço?
- Sinceramente, não sei! – Olha... Eu nasci na Capital, mas, morei em muitos lugares quando ainda jovem.
- Eu também não nasci aqui! - Disse ela mostrando os dentes num sorriso de dar inveja.
Sua revelação parecia querer dizer-me alguma coisa, mas não foi completa. Parecia querer comparar-me a uma pessoa a cuja fisionomia não se encaixava bem em sua cabecinha. A seguir, vendo que havia feito algo que me deixara encabulado, sorriu, pediu desculpas e entregou-me o jogo. A um passo de mim, desejando-me “Sorte” e completou:
- Não se demore muito em voltar aqui. Vou ficar te esperando. Volte logo!
Sai sem dar muita atenção àquela sua recomendação. Eu, um senhor de cabelos grisalhos, não poderia estar causando sentimentos de carinhos àquela menina... Tampouco estar lhe despertando algo improvável ao seu jovem coração! Sai calado e pensativo. Pus os pés na calçada, olhei as pessoas à minha frente... E pareceu-me estar sendo observado por todos e todos exigiam de mim uma resposta. Mas, quais respostas? E me espantei com um pensamento: Estar vivendo sozinho e sem aliança... Quem sabe essa menina... Não. Em minha vida há “alguém”... Todavia, segundo meu amigo, ao me ouvir dizer que tenho “alguém” informou-me com muita técnica: “- quando se diz “tenho um alguém” reporta-se a “alguém”. Efetivamente esse “alguém” não faz inteiramente parte do seu dia a dia ou das ações, pois, trata-se de algo indefinido. Como definir “tenho um amor” por “tenho um “alguém”? Concordei com ele em parte e disse-lhe a seguir: Comigo, nada de sérios compromissos! - Ai é que esta, meu amigo: Se você não quer sérios compromissos, “alguém” é algo indefinido” por isso é que você não tem ninguém! - Completou a sorrir.
Eu já vivia assim há tempos. Mas, aquela jovem... a da loja, - e não fui eu quem a olhei, e sim, ela – já estava me olhando assim que entrei pela primeira vez e que poderia ser minha filha! Pensando assim, optei por fazer jogos em outras Lojas; não obedecer ao seu pedido que mais parecia uma ordem. Mas um dia, percebi que fui direto para a Loja sem controlar meus passos. Ao entrar, ela apareceu sorrindo:
- Oi! Como tem passado o Senhor? Esperei por tanto tempo! Enfileirou as palavras e esquecera-se do tratamento carinhoso.
Foi ai que percebi que aquele rostinho me era familiar. A Loja estava bem vazia e ela aproveitou para anunciar a todos:
- Olha aqui... meu cliente preferido!
Algumas pessoas me olharam sentindo-se subestimadas por tão alto elogio, porém, assim que seu sorriso iluminou em sua boca, aceitaram o anunciado. E ela não deixou por menos – retificou:- Que me desculpem os demais... – E voltando-se para mim, recriminou-me: - Eu peço que não se demore e é ai que o Senhor mais se demora em aparecer! Lembra-se do Pequeno Príncipe? – E citou um trecho muito conhecido: “Se tu me cativas, torna-te eternamente responsável por mim!”
Eu já havia lido aquela história. Mas, a cada leitura seguinte, encontrava uma nova interpretação. Parecia a leitura de um livro mágico! E a seguir, concordei, mas, quem protegia quem?
- Você me disse ser de São Paulo, mas, tenho a ligeira impressão de que te conheço de outras bandas.
- Pode ser. Já estive numa pequena Cidade do interior do Espírito Santo...
- Eu sabia! - Disse ela, confirmando suas dúvidas e batendo uma mão à outra. – Eu também vim de uma pequena Cidade igual a essa, do mesmo Estado. Mas, eu tinha três meses de vida. Não sei qual a sua, mas...
Parou de falar. Eu queria escutar mais; Saber sua intenção; Compreender o porquê nos dávamos tão bem, conversando, e foi aí que ela revelou:
- A minha Cidade era... Ao ouvir o nome da referida, a olhei meio assustado. Houve um silêncio entre nós dois. Porque aquela jovem mulher me falava tudo aquilo e porque me assustei quando ouvi o nome da Cidade? Por que, perto dela, algo misterioso acontecia comigo? Dois lagos azuis... Foi assim que vi algo já conhecido quando ela me encarou. Senti um arrepio por toda a espinha dorsal. Nesse instante, tomei - mesmo com falta de lubrificação bocal -, coragem e lhe perguntei algo que me veio à cabeça, de repente:
- Menina, como se chama mesmo sua mãe?
E foi assim... Após ouvir o nome, percebi que estava diante da solução dos meus problemas; problemas antigos; a sensação de que havia perdido alguma coisa no passado. Algo que se desprendera de mim e que continuava vivo. E tudo foi se aclarando. Lembrei-me da garota. Do nosso relacionamento na despedida. De sua força que levara-me ao pecado, cujo nosso procedimento infantil, apesar de efêmero, foi o mais intenso que senti até então. Tão proibido à época, e hoje, no entanto... Tão comum entre os jovens! Uma época distante, conturbada que nos levou a enfrentá-la de frente, pela força adquirida no amor que a tudo vence, e que foi sendo distorcido, ao longo dos anos, pela própria embriaguez do moral. Uma; duas e mais vezes e ali estava, à minha frente, com um sorriso esplendoroso, o alguém, procurando por alguém, ao lado de quem, o destino separara para depois, caprichosamente unir sem a menor cerimônia.
E de repente, tive a impressão de que sua mãe estava por perto, daí a pergunta saiu de minha boca como um gemido:
- Onde ela está, menina?
Como num passe de mágica, ela virou-se delicadamente e apontou-me a porta, dizendo:
- Olha lá... Será aquela?
O mesmo nariz. O mesmo rosto, agora, já com suaves tons da idade, mas com os mesmos faróis azuis iluminando aquele instante. Os mesmos cabelos, lisos, loiros, agora, cortados rentes à nuca.... Era ela mesma. Tímida, sorriu-me. Nesse instante, a menina afirmou categoricamente:
- Viu quanta felicidade? Você a encontrou... e eu, o encontrei! – e sem nenhuma cerimônia, abraçou-me murmurando “– Você é meu Pai! Eu o encontrei!”
Fez um sinal para que ela se aproximasse e depois, disse em tom suave:
- Vem... É esse o seu amor antigo? Nunca mais quero te ver chorando - Estamos juntos para sempre!
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Solano Brum